O Ermitão
Um ermitão, uma destas pessoas que se refugiam na solidão do deserto do bosque ou das montanhas para dedicar-se somente á oração e penitência, muitas vezes comentava que tinha muito o que fazer.
Perguntaram-lhe como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho.
Tenho que domar duas águias, manter quietos doi coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e conter um leão.
As duas águias ferem e destroçam com suas garras. Tenho que treiná-las para sejam úteis e ajudem sem ferir. São minhas mãos.
Os dois coelhos querem ir onde lhes agrada, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades. Tenho que ensinar-lhes a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável. São meus pés.
O mais difícil é vigiar a serpente, apesar dela estar presa numa jaula de 32 barras. Está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula. Se não a vigio de perto, causa danos. É minha língua.
O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações. Alegra estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia. É meu corpo.
Finalmente, preciso domar o leão. Quer ser o rei, o mais importante: é vaidoso e orgulhoso. É meu coração.